Quando estamos numa loja a ver os produtos e as assistentes de loja nos abordam perguntando se precisamos de ajuda, invariavelmente responde-se: ‘Só estou a ver, obrigado!’ Da mesma forma, quando abordamos o assunto da dor, com as pessoas que nos procuram clinicamente, naquilo que ela é, um fenómeno do cérebro, a resposta que obtemos é: ‘Mas a mim dói-me mesmo!’
Outra resposta no mesmo sentido ocorre quando explicamos que, no caso da dor lombar, cerca de 90% segundo a investigação científica, nada tem a ver com a alteração das estruturas anatómicas, mesmo quando estão presentes, como a degeneração, mas sim com fatores psico-sociais, ou seja, os ‘stresses da vida’. Normalmente, a pessoa com uma expressão facial e de tom de voz ofendida questiona, ‘mas está a dizer que é tudo da minha cabeça?!’
O comentário a fazer é que é verdade, dói mesmo e é tudo da cabeça, no sentido de se passar no cérebro a interpretação dos sinais de perigo do corpo que levam a produzir dor. E é aqui que começa a verdadeira ajuda que um clínico pode dar, explicando como se gera o fenómeno da dor e que papel tem na vida, do ponto de vista de se ser funcional no dia-a-dia e de proteção.
Todos os dias recebemos pessoas com queixas de dor física e em todas as sessões explicamos o fenómeno da dor, de como é gerada pelo cérebro e qual a melhor forma da pessoa cuidar de si. O conhecimento é um elemento preponderante para a recuperação de lesões traumáticas ou de sobrecarga.