Nos países ocidentais, a despesa dos Governos com a saúde centra-se essencialmente nas doenças cardiovasculares e oncológicas. Curiosamente, são duas áreas que estão extremamente associadas aos hábitos da vida moderna e da dinâmica atual da sociedade. O principal impacto decorre da fraca qualidade dos alimentos e hábitos alimentares, da privação de sono, da atividade física insuficiente, que não respeitam as necessidades fisiológicas, e presença de stress crónico, que envenena e intoxica todo o organismo.
Nas áreas de investigação do comportamento humano há muitos anos que se concluiu que fornecer informação às pessoas sobre saúde não é suficiente para alterar hábitos, pelo menos para esperar uma mudança em larga escala. Por exemplo, não é por a pessoa saber que os alimentos processados fazem incrivelmente mal, que vai deixar de os consumir.
Há pessoas, no entanto, que cultivam um estilo de vida em que conseguem respeitar e preencher mais as suas necessidades fisiológicas, logo são potencialmente mais saudáveis. Muitas destas pessoas, porém, vivem um pouco à margem da grande sociedade, pertencendo a micro-comunidades que partilham os mesmos ideais em termos de vida saudável, e em que se exibe até um certo sentimento de superioridade moral em relação às demais pessoas da sociedade. Contudo, também existem aqueles que, estando totalmente inseridos na sociedade, atuam de maneira a promover a sua saúde e respeitar as suas necessidades fisiológicas e que ninguém dá conta. E é aqui que reside o desafio, como usufruir das coisas boas da vida moderna, sem pagar o preço do seu impacto negativo. É sobre estes que vamos desvendar um segredo, sobre a importância de ter rituais, apesar dos hábitos.
Comecemos por analisar a diferença entre hábitos e rituais. Os hábitos são comportamentos automáticos, muitas vezes inconscientes. Enquanto os rituais são algo que se faz por uma determinada motivação e o seu cariz consciente, confere-lhes um verdadeiro poder transformador. Por detrás deste ato intencional, encontra-se um certo retorno/recompensa a curto e/ou a longo prazo, que se suporta em conhecimento, convicção e resultados. A par do efeito fisiológico, há que levar em conta o efeito psicológico que um ritual possui pelo simples facto de se assumir o controlo das nossas decisões e capacidades em determinar o nível e qualidade da nossa saúde e performance.
A força do ritual está na razão da sua realização. Quando se faz algo com a convicção que nos vai fazer bem, despoleta-se uma cascata de mecanismos fisiológicos, no interior do organismo, que é profundamente benéfico. Por isso, todas as ações que se tomam para promover a saúde são potencialmente (muito) benéficas. Se estas forem suportadas por conhecimento validado, então os ganhos são exponencializados. Os rituais aliam conhecimento sobre como o corpo funciona e o que precisa; convicção sobre estar-se a tomar a ação certa, pelos motivos certos e pela sua dimensão grandiosa; consciência porque se se apercebe dos seus efeitos positivos; e com resultados, cuja aferição permite sempre ajustamento para melhorar a eficácia.
Um caso prático. Se se expuser ao sol apenas porque anda pela rua com uma t’shirt e uns calções, tem um benefício inferior do que andar propositadamente com a mesma indumentária, mas com o objetivo de absorver os raios de luz solar. Claro que munido do conhecimento que deve ter pelo menos 40% de área corporal exposta, vai escolher uma roupa que lhe permita isso. E se souber que quando o sol está mais vertical, entre as 12h e as 15h aproximadamente, a intensidade dos raios é maior e assim consegue tirar mais partido de uma exposição mais curta, pode conjugar estas duas ações levando a benefícios aumentados. Se adicionar a essa exposição uma caminhada de pelo menos 30 minutos, consegue ainda melhores resultados. E se complementar a caminhada com andar descalço em contacto com a natureza, como relva ou praia, o efeito composto destas ações torna-se cada vez mais poderoso.
É este o poder mágico do conhecimento, quando se alia à convicção e à intenção, tornando o processo consciente e fisiologicamente eficaz. Por isso invista em rituais que promovem a saúde e o bem-estar, mesmo que deixe alguns hábitos intactos. Os rituais certos podem até amenizar os hábitos mais prejudiciais