Otimizar através da alimentação

A alimentação tem uma influência profunda na forma como nos sentimos e comportamos. Do ponto de vista da otimização do nosso funcionamento, tem quase tanto peso como o sono, tema do artigo anterior.

Aliás estas duas componentes interagem de forma tão profunda, uma com a outra, que não é possível praticamente dissociar os seus efeitos na regulação do ritmo circadiano.

Este é o relógio interno natural e determina o funcionamento de praticamente todos os mecanismos que decorrem no organismo, desde a temperatura à expressão genética.

O que acerta o ritmo circadiano todos os dias, para funcionar como um relógio num ciclo de 24 horas aproximadamente é o sono, através da luz, e alimentação através da introdução do primeiro e do último alimento nestas 24 horas.

Se o campo de conhecimento da alimentação já estivesse dominado não haveriam tantas metodologias e linhas de atuação como as que existem.

Numa análise fria e distante de tudo o que se observa, para um não especialista como eu, apercebe-se que todos os modelos nutricionais funcionam, porém nenhum serve para todas as pessoas ou para sempre, por vezes.

Não sou nutricionista, felizmente, porque se há área clínica ingrata é esta.

Conseguir interpretar e aplicar a informação dos artigos científicos e conjugar essa informação com a prática real é tarefa impossível neste momento. O principal motivo para esta dificuldade é porque somos entidades fisiológicas únicas.

Cada pessoa tem as suas próprias necessidades e reage de forma exclusiva aos alimentos. E não variamos apenas uns em relação aos outros, mas também ao longo do dia e da vida. Ou seja, algo que hoje nos faz bem, amanhã pode fazer mal.

É devido a este dinamismo e incerteza que precisamos de ter um paradigma de atuação para funcionar de forma a conseguirmos otimizar-nos através da alimentação. O papel do nutricionista pode ser determinante se este conseguir identificar os aspetos essenciais do funcionamento da pessoa. Um nutricionista inteligente, e com alguma sorte, pode ajudar a pessoa a encontrar a fórmula de alcançar mais facilmente o equilíbrio interno entre o que se consome e o efeito que tem em si.

O paradigma mais simples e prático que se conhece para a alimentação é o das três variáveis que são, no fundo, as que que controlam a alimentação: quando se come; quanto se come; e o que se come. Sem nenhuma ordem de importância, irei abordar resumidamente as três.

Tempo

O período em que se consomem alimentos assim como o horário do primeiro alimento e do último, é determinante. A investigação científica aponta para que o consumo de alimentos sólidos ou líquidos, com exceção de água, deva ocorrer no período entre as 8 horas e as 20 horas.

Na prática, no período em que há luz solar. Porém, se a janela alimentar for menor que 12 horas, mais para as 16 horas, os efeitos parecem ser mais benéficos.

Aparentemente o corpo está mais preparado para iniciar o consumo de alimentos depois das 10 horas e terminar
pelas 18 horas.

Isso implica que o sistema digestivo tem a possibilidade de recuperar e regenerar totalmente do esforço e desgaste da digestão, partindo para o próximo período digestivo refrescado e preparado.

A esta variável chama-se Alimentação Restringida no Tempo e é uma modalidade que contribui positivamente para a regulação do ritmo circadiano.

Quantidade

Ninguém tem dúvidas que o excesso de comida, mesmo de qualidade, é prejudicial. Além disso, muitas intolerâncias e reatividades alimentares estão dependentes da quantidade (dose), ou seja, há um limite a partir do qual se perde a tolerância e o corpo reage negativamente.

Estudo após estudo tem-se visto que apesar da qualidade das calorias não ser igual e fazer toda a diferença, a quantidade de calorias consumidas é um fator determinante da saúde e longevidade com qualidade.

Há muitas práticas de jejum e na seleção dos alimentos que podem ser usadas para jogar com esta variável.

Qualidade

O poder nutricional e a constituição dos alimentos são aspetos centrais. Infelizmente a qualidade dos alimentos tem-se vindo a perder ao longo dos tempos, mesmo dos de produção biológica, muito por causa da depauperação dos solos, e consequentemente o seu poder terapêutico.

Qualquer alimento que consumamos deve ser nutricionalmente denso (rico), assim como deve haver um equilíbrio entre gordura saudável, proteína e hidratos de carbono. Basicamente, deveremos consumir alimentos naturais, com um mínimo de carga de químicos, e familiares ao organismo da pessoa.

A sugestão que fazemos na Saúde Escudeiro em relação a esta variável de otimização é que as pessoas escolham os alimentos, em primeiro lugar, por ‘gostarem’ delas e dentro destes, depois, optar pelos que gostam. Ou seja, devem-se escolher os alimentos não por gostar-se deles, mas por eles gostarem de nós.

Umas notas finais quanto à qualidade. Fugir o mais possível do açúcar, óleos aquecidos e alimentos processados.

É difícil encontrar algum benefício no seu consumo para o corpo. Já para não falar dos seus efeitos detrimentais no cérebro sempre que há estimulação sensorial intensa, como a combinação entre sabor, cheiro e textura dos alimentos gerando compulsões, adições e distúrbios do sistema nervoso (ansiedade, por exemplo).

As variáveis Tempo, Qualidade e Quantidade tornam a alimentação num processo tridimensional, onde se encontra o segredo para a saúde e longevidade com qualidade.

Atuando em uma só já se tem benefícios marcantes, mas se se conseguir aplicar todas ao mesmo tempo, quem sabe onde vai parar o limite do bem-estar?

Há muitas estratégias, metodologias e ferramentas que qualquer pessoa com um mínimo de apoio profissional, consegue aprender e aplicar no seu dia-a-dia para se otimizar usando a alimentação.